O facto de ser licenciado em Gestão do Desporto e de trabalhar no Serviço de Desporto da Ilha do Pico, aliado à ligação que manteve com o Futsal, como Jogador e Treinador, fez com que José Silva tenha aceite com normalidade o desafio lançado por Eduardo Pereira para integrar a sua equipa na Associação de Futebol da Horta (AFH). A “CARAS” de Novembro de 2020 admite que este cargo (voluntário) é uma forma de representar o Pico na AFH e de acompanhar o desenvolvimento destas duas modalidades: Futebol e Futsal.

 

Cristina Silveira

 

“Entendo que tem de haver quem esteja à frente das instituições, caso contrário elas desaparecem. Contudo, se mais pessoas dessem o seu contributo seria bem melhor não só para quem trabalha, que mesmo fazendo por gosto ao fim de algum tempo sente-se, naturalmente saturado, mas, também, para as próprias colectividades que poderiam ser mais bem servidas se houvesse uma maior rotatividade de dirigentes. Todos sabemos que caras novas trazem novas ideias e novos projectos”. É assim que José António Sousa da Silva, Director da Associação de Futebol da Horta (AFH), na ilha do Pico, explica um pouco o facto de há três mandatos consecutivos desempenhar estas funções, sempre ao lado de Eduardo Pereira, Presidente da Direcção desde 2009.

“Conheci o Dr. Faria de Castro [anterior Presidente da Direcção da AFH] quando já me encontrava a trabalhar no Serviço de Desporto da Ilha do Pico e ele ia lá fazer os inquéritos desportivos. Eu era o assistente dele, digamos assim, mas não tinha uma ligação forte à Associação”, recorda José Silva, que prossegue: “Com o passar do tempo e o convite entretanto formulado, encarei o novo cenário como mais uma hipótese de acompanhar o desenvolvimento do Futebol e do Futsal no Pico”.

Enquanto jovem, este Dirigente teve como foco o Atletismo e mesmo não tendo praticado Futebol ou Futsal (“Futebol de Salão como se dizia naquela altura”) de forma federada – na universidade jogou Futsal – naturalmente evoluiu para Treinador desta modalidade, o que aconteceu durante 4 anos, ao serviço do Candelária Sport Clube.  “Embora, na minha óptica, o jogador tenha menos responsabilidade do que o treinador, que tem de preparar os treinos e fazer um estudo diferente, enquanto o jogador chega ali para jogar e faz o que o treinador diz, sinto que o facto de ter sido jogador me ajudou muito a ser treinador, já que ficamos com uma perspectiva diferente”.


Equipa Sénior de Futsal do Candelária Sport Clube


O nosso entrevistado confessa que “sempre” teve gosto em colaborar em diferentes colectividades na sua comunidade, quer fossem culturais ou desportivas. E esse espírito cooperante e dinâmico intensificou-se com a idade, se tivermos em conta que actualmente é Treinador de Atletismo, além de ser Director Técnico da Associação de Atletismo do Pico. Paralelamente a tudo isto, é Guia de Montanha e detentor de uma Empresa de Animação Turística. Mas desengane-se quem pensa que a lista fica por aqui, havendo ainda tempo para estar com a família, jogar Futsal, fazer corrida de trail e andar de bicicleta.

E porque o desporto é parte da vida deste picoense, também faz questão de incutir o gosto ao filho que, com apenas 4 anos de idade, já pratica Futebol e Ténis de Mesa.

 

“Voluntários deveriam ser compensados na idade da reforma ou no IRS”


José Silva entregou o Troféu e o Diploma a José Rodrigues, Presidente do Futebol Clube da Madalena, na Gala AFHorta - 90º Aniversário, realizada no dia 24 de Outubro de 2020, no Teatro Faialense. A Escola de Futebol do Madalena foi classificada pela Federação Portuguesa de Futebol com 2 estrelas

Fotografia de: Roberto Saraiva


Questionado sobre o que move tantos voluntários a darem de si e do seu tempo, José Silva não tem qualquer pejo em garantir que “é o gosto”, mas apressa-se a advertir que esta situação tem de ser revista. “Sei que quem anda envolvido nas agremiações, como grupos desportivos, folclóricos, filarmónicas, irmandades, comissões da Igreja, etc, é porque gosta de ajudar, de colaborar, mas também sei que a grande maioria não se sente recompensada tanto pela entidade/organismo que serve como pela própria sociedade. E é preciso ter em conta que todas as instituições – sejam desportivas, recreativas, religiosas, culturais ou outras – representam significativas mais-valias para a nossa sociedade, a qual não está consciente deste grande valor. E é por isso que muita gente não manifesta interesse em integrar direcções. Antigamente, o leque de solicitações era bem menor e estes cargos atraíam as pessoas, mas actualmente com as hipóteses de viajar mais e o surgimento de outras ocupações, vai sendo cada vez mais difícil encontrar quem queira ocupar estas funções, que dão muito que fazer. Uma vez que não há dinheiro para pagar a quem faz tudo isto de forma graciosa, defendo a necessidade de ser instituído algum mecanismo de compensação, que tanto poderia ser em termos da idade da reforma ou de descontos no IRS. Se nada for feito neste sentido, corremos o risco de a médio prazo haver um grande vazio directivo em muitos organismos, o que inevitavelmente conduzirá à inactividade ou mesmo desaparecimento de alguns”.

 

Futebol Feminino: “Existe muita “matéria-prima” nas escolas” 


José Silva acompanhou a Equipa Feminina que participou no Torneio Inter-Associações na temporada de 2018/2019

 

A Associação de Futebol da Horta é a entidade reguladora de todas as actividades federadas de Futebol e Futsal nas ilhas Faial, Pico, Flores e Corvo.

José Silva é o rosto da AFH na ilha montanha. Além de ter a seu cargo o acompanhamento das equipas nas deslocações fora da ilha, é igualmente o Responsável pelo Futebol Feminino, pela organização da Formação de Treinadores e Árbitros e pelas Concentrações de Carnaval e Natal (jogos de Futebol que se realizam nestas duas alturas do ano entre Benjamins, Traquinas e Petizes, com o intuito de dar visibilidade aos desportistas destes escalões etários (mais novos), estimulando-os para um futuro na modalidade, e, ao mesmo tempo, incentivar a prática desportiva com hábitos de vida saudável). Sempre que se afigura necessário representar a AFH no Pico, recebendo alguém ou estando presente nalgum evento, este Director avança.

Outra tarefa muito importante é a ponte que José Silva estabelece entre os Clubes federados do Pico e a Associação de Futebol da Horta, no sentido de acompanhar de perto o dia-a-dia dessas colectividades desportivas, fazendo o ponto da situação da sua actividade e reportando o que deve ser incrementado ou melhorado. 


Na qualidade de Director da AFH no Pico, uma das tarefas de José Silva é o acompanhamento das equipas aquando da realização de competições fora da ilha

 

Virando a agulha para o Futebol Feminino – sector que continua com a actividade interrompida devido à pandemia de Covid-19 – este Dirigente assegura que o projecto “tem pernas para andar”. E assinala: “Existe muita “matéria-prima” nas escolas. Os próprios professores de Educação Física identificam as jogadoras que revelam potencial para o Futebol. É preciso que seja feito um trabalho de acompanhamento destas atletas e a melhor forma é integrá-las em equipas mistas. A propósito disso, recordo o caso da Daniela Santos, que actualmente se encontra no Benfica. Para além de ela ter capacidade física, notava-se que também havia qualidade técnica e não tinha medo de jogar. Era, como se costuma dizer, uma jogadora de cabeça levantada. Ela começou cedo a praticar, mas sem dúvida que o facto de ter jogado em equipas mistas foi uma mais-valia para ela.

Quando iniciei o meu percurso como Treinador foi precisamente com equipas de Seniores Femininas de Futsal. Percebi que todas já tinham um passado no então Futebol de Salão. Nesse tempo, os Torneios Inter-Escolas funcionavam como centros de recrutamento, digamos assim, e as que tinham capacidade iam sendo captadas pelos clubes. Julgo que devemos continuar a seguir esse modelo, pois actualmente o desporto escolar, promovido pela Direcção Regional do Desporto (DRD), prevê a formação de equipas de Futsal Feminino, com jogadoras que têm 16, 17, 18 anos, mas depois os clubes não formam equipas para que elas possam jogar, pelo que deixa de haver continuidade. É determinante que os clubes se cheguem à frente no sentido de arrancarem com este projecto, o qual é fortemente incentivado e apoiado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF). E os resultados estão à vista.


Entrega da Taça de Campeãs Juniores Femininas do Campeonato da Associação de Futebol da Horta à equipa do Futebol Clube da Madalena


Há jogadoras que querem jogar. Portanto, é imperioso que alguém as organize e enquadre num modelo competitivo. Se houvesse algum clube interessado em avançar com a formação feminina de Futsal, seria o ideal. No Pico, o Boavista de São Mateus já tem Juvenis Femininas. Compreendo que mais uma equipa poderá implicar mais recursos, mas por vezes os técnicos já existentes podem treinar mais uma equipa. É tudo uma questão de gestão e de boa vontade, claro”.

 

“O trabalho da AFH aumentou e evoluiu muito junto dos Clubes em cada ilha”

 

Instado a fazer um balanço a estes três mandatos – o actual termina em Março de 2021 – a “CARAS” do mês de Novembro de 2020 responde que “tem sido um desafio interessante”, para logo sublinhar: “A Associação de Futebol da Horta já tinha alguma actividade, mas pelo acompanhamento que tenho feito constato que tem crescido muito nos últimos anos, com assinaláveis melhorias. O trabalho da AFH aumentou e evoluiu muito junto dos Clubes em cada ilha. Temos apostado na Festa do Futebol Feminino (FFF), no desenvolvimento dos centros de treino e em novos projectos, imprescindíveis para a concretização do papel deste organismo, sobretudo ao nível da formação. Recordo que foi com esta Direcção que o Futsal deu o pontapé de saída na ilha do Corvo, em 2014. E fomos acompanhando o crescimento registado nas diversas áreas.


Grande parte do trabalho de José Silva no Pico passa por auscultar os Clubes da AFH no sentido de perceber quais são as suas dificuldades, havendo um contacto muito próximo

 

Fotografias cedidas por: José Silva


Na minha opinião, a AFH tem-se pautado por uma acção bastante meritória e os louros são repartidos pela Associação e pelos seus Clubes, já que sem Clubes não se justificava a existência da Associação, embora sem ela a vida dos Clubes seria bem mais complicada. E é precisamente aqui que reside grande parte do meu trabalho como Director da AFH, ou seja, estar sempre ao lado dos Clubes, auscultá-los e tentar perceber quais são as suas dificuldades, num contacto muito próximo. Posso garantir que a troca de impressões tem sido uma realidade cada vez mais presente e o relacionamento está diferente, para melhor.

Claro que de início os responsáveis pelos Clubes conheciam-me como pertencendo ao Serviço de Desporto da Ilha do Pico, mas a verdade é que já há algum tempo me identificam mais com a Associação de Futebol da Horta. E neste capítulo tenho de ser honesto e admitir que havia quem ficasse de pé atrás pelo facto de a sede ser no Faial. Mas com este modelo de representatividade, todas as ilhas se sentem mais presentes já que existe alguém da própria ilha que funciona como representante dos interesses locais junto da Associação.

Sei que nem todos reconhecem e alguns nem percebem bem o que é trabalhar com quatro ilhas, tão distantes como no caso das Flores e do Corvo. É algo muito difícil, que exige uma grande imparcialidade e simultaneamente uma visão de conjunto.

Por vezes, algumas pessoas não conseguem compreender ou sequer imaginar o enorme trabalho que é levado a cabo por esta grande organização que é a Associação de Futebol da Horta. Sinto que quem não está ligado não tem a verdadeira noção de tudo o que é preciso fazer na preparação de jogos, campeonatos, formações, selecções, etc. Estamos a falar de um trabalho permanente e quem não acompanha não sabe. E cada vez mais vamos tendo acesso às comunicações que chegam diariamente à Associação e vemos que aumentam os requisitos e as exigências que temos de cumprir. Obviamente que esta parte não agrada muito aos nossos dirigentes, que sendo todos voluntários se vêem a braços com um volume de trabalho crescente e alguns admitem mesmo bater com a porta. Sabemos que este conjunto de regras visa a evolução das nossas equipas, pelo que o nível de exigência vai aumentando com vista a uma maior qualidade e temos de ser capazes de nos adaptarmos. É uma questão de as pessoas se empenharem e organizarem. Sei que todos os Clubes têm interesse em prosseguir com o Processo de Certificação, uma vez que o mesmo traz vantagens e é uma forma de prestigiar o trabalho que têm desenvolvido.

A implementação da plataforma Score é outro aspecto que inicialmente não foi bem encarado, mas já está assimilado. O funcionamento regular está a decorrer de forma fluente e sempre que é preciso algum esclarecimento, os Clubes ligam directamente para a Associação.


“Sinto que quem não está ligado não tem a verdadeira noção de tudo o que é preciso fazer na preparação de jogos, campeonatos, formações, selecções, etc”, salienta José Silva

 

Fotografia de: Roberto Saraiva

 

Há projectos na calha precisamente com o intuito de continuarmos a melhorar cada vez mais os serviços que são prestados pela Associação de Futebol da Horta e aproximarmos os Clubes. Estou a referir-me à nova Sede, pois a actual já não oferece as condições necessárias para quem lá exerce funções. À medida que aumenta o trabalho é preciso ter mais recursos humanos e o espaço tornou-se reduzido. Referência também para o Centro de Estágio, com local para treinos e alojamento, no sentido de começarmos a preparar de maneira diferente as nossas selecções e os nossos atletas, desenvolvendo um trabalho mais personalizado. Trata-se de uma grande aposta que vai beneficiar o Futebol e o Futsal nas quatro ilhas de abrangência da AFH”.

 

“Os Troféus atribuídos nas Galas revelam que a AFH está atenta ao trabalho dos Clubes”


José Silva também entregou Troféus na Gala AFHorta - 89º Aniversário, que decorreu na Madalena do Pico, em 2019

 

Fotografia de: José Feliciano

 

Para o entrevistado, as Galas que têm vindo a ser realizadas “constituem momentos privilegiados de os vários agentes desportivos que se destacaram se sentirem reconhecidos pela sua acção”. E realça: “A Associação não existe simplesmente para organizar competições. Os Troféus atribuídos nas Galas revelam que a AFH está atenta ao trabalho dos Clubes. Independentemente de haver ou não títulos, a Associação de Futebol da Horta conta com todos no sentido de continuarem a dar o seu melhor. O movimento associativo não é composto apenas por Atletas. Existe um vasto conjunto de agentes desportivos com quem queremos continuar a poder contar. Todos fazem parte desta grande família, desde os Clubes fundadores aos mais recentes, que também têm feito um bom trabalho, representando dignamente a nossa Associação nas competições regionais quando são apurados para o efeito.

Entendo que esta é uma boa iniciativa, pelo que deve manter-se. Este ano a Gala registou algumas contingências, inerentes à pandemia que vivemos, mas sem dúvida que este evento tinha de ser realizado, pois estamos a comemorar 90 anos de feitos, conquistas e labor árduo de muitas gerações. É imprescindível prestar tributo a quem ajudou a construir esta história, que se projecta no presente com todos estes actores, cuja actividade merece ser enaltecida.

Tratando-se de uma Associação com jurisdição em quatro ilhas, por mais ou menos dificuldades que possa haver, é determinante que a Gala aconteça de forma rotativa, não só porque todas as quatro ilhas merecem de igual forma, mas, até, por uma questão de descentralização. Tal como já recebemos campeonatos regionais e selecções de forma rotativa, também devemos pensar neste modelo relativamente à organização da Gala.

Na primeira edição [que aconteceu no Pico] foi tudo novo. Percebeu-se a satisfação que houve pelo evento em si e o orgulho sentido por parte de quem foi galardoado assim como daqueles que estavam indirectamente ligados. E o facto de ter sido no Pico foi também uma forma de demonstrar que a Associação de Futebol da Horta é de quatro ilhas, com a pretensão de irmos descentralizando e assim ir de encontro aos Clubes, motores deste organismo”.

 

“Não vejo razões para que não se continue a trabalhar com a mesma equipa”


José Silva alinha num quarto mandato, mas tem de ser com a mesma equipa e o mesmo líder, como atesta a fotografia do actual grupo tirada aquando da Gala AFHorta - 90º Aniversário, decorrida a 24 de Outubro último, no Teatro Faialense.

Da esquerda para a direita: Arlindo Silva, Luís Rosa, Nelson Sousa, Susana Garcia, Eduardo Pereira, Carlos Neves, José Silva e Luís Paulo Furtado

 

Fotografia de: Roberto Saraiva

 

Se o convite para o quarto mandato for uma realidade, José Silva não vira as costas e apresenta os seus argumentos: “Penso que o trabalho que temos vindo a desenvolver tem sido reconhecido por todos, ainda que alguns Clubes tenham sempre algo a apontar no sentido de reivindicarem mais apoio e menos trabalho, mas isso faz parte do processo. Por isso, não vejo razões para que não se continue a trabalhar com a mesma equipa. Eu estou na disposição de continuar a dar o meu contributo neste grupo”.