Jogou Hóquei e Futebol, mas a sua paixão é ser Treinador, sobretudo dos escalões de Formação. Enquanto faz um compasso de espera por razões de saúde, entendeu que poderia dar o seu contributo como Dirigente na Associação de Futebol da Horta (AFH), o que é não só uma forma de continuar ligado ao Desporto, mas, também, de dar o seu contributo e de acompanhar o filho.

Como elemento do novo elenco directivo, eleito em Junho deste ano, tem a seu cargo o pelouro do Futsal e neste sentido revelou que gostaria de treinar esta modalidade, mas começando pelos escalões mais baixos com o intuito de formar jogadores de base que depois pudessem ter futuro.

Na entrevista de hoje ficamos a conhecer um pouco melhor Marco Benfeitinho, um Voluntário que vê o Associativismo como importante e necessário, mas sem lugar a compensações.

Cristina Silveira

“Sempre estive ligado ao Desporto, tendo jogado Futebol e Hóquei no Pico, de onde sou natural. Enquanto Júnior e Juvenil, representei o Boavista de São Mateus, uma época em cada um destes escalões; e depois um ano em Juniores no Madalena, sempre como federado. Mas antes joguei Hóquei, atendendo a que esta foi e continua a ser a modalidade de eleição na minha freguesia, que é a Candelária. Porém, como tinha sempre aquele “bichinho”pelo Futebol acabei por praticar também.

O Hóquei em Patins foi a primeira modalidade a que Marco Benfeitinho se dedicou. A imagem reporta-se a um jogo de Veteranos, em 1997

Quando joguei nos Juniores do Madalena e depois passei a Sénior, para mim e para os da minha geração as opções que se apresentavam aos jogadores da Candelária eram Boavista ou Madalena, uma vez que ficamos ali a meio. Mas aquele grupo, em conjunto com outros mais velhos que ainda jogavam no Boavista, começou a pensar por que razão não formávamos a nossa própria equipa, atendendo a que isso já tinha sido uma realidade no passado. O campo encontrava-se abandonado pelo que fomos nós que deitámos mãos-à-obra no sentido de limpar, cortar paus para colocar iluminação e 12 anos depois a Candelária voltou a ter a sua própria equipa, para orgulho de todos nós! Tinha 18 anos, mas parece que foi ontem! E a equipa da Casa do Povo da Candelária aguentou-se ao longo de cinco anos, inscrita no INATEL. Eu era um dos adjuntos do treinador, que era treinador/jogador. Foi tudo aproveitadinho. Éramos como uma família, sendo todos jogadores da freguesia. E a partir daí ainda fiquei com mais vontade de me dedicar ao Futebol.

Terminado esse período – que para mim foi marcante – ingressei na Polícia de Segurança Pública (PSP) e como havia equipas de Futebol de 5 continuei a jogar e representei, por três vezes, o Comando da Horta nos Nacionais.

1995 - Equipa de Futebol do Comando da Horta da PSP

Quando me mudei para o Faial ainda fui fazer treinos ao Atlético, tendo em conta que fica mesmo ao lado do Comando da PSP, mas sempre que tinha uma folga queria era ir para o Pico, pelo que não dava.

Uma vez que possuo os Cursos de Treinador de Futebol e de Futsal durante dois anos treinei Formação (Escolas) em Castelo Branco, a seguir  a equipa de Futsal Feminino dos Flamengos, uma época o Futsal Sénior Masculino do Capelo, e, por fim,  dois anos os escalões de Formação nos Flamengos, em Futebol. Como tive um problema de saúde custava-me a estar de pé a dar treinos, pelo que tive mesmo de abandonar. Contudo, como gosto muito de Futebol e de Futsal manifestei disponibilidade para colaborar na vertente directiva, o que também considero necessário e útil. E já não é a primeira vez que dou o meu contributo na área do Associativismo. Mesmo já a residir no Faial, integrei a Direcção do Candelária Sport Club do Pico; depois fiz parte dos Corpos Gerentes do Castelo Branco Sport Club e de uma Irmandade do Espírito Santo e actualmente sou membro do Conselho Fiscal da Casa do Povo de Castelo Branco.

O nosso entrevistado treinou a Equipa de Futsal Feminino do Futebol Clube dos Flamengos na temporada de 2011/2012

Gostava muito que a AFH voltasse a ter Futsal no Faial

O facto de ter aceite o convite do Presidente Eduardo Pereira para trabalhar neste mandato de quatro anos [as eleições aconteceram a 05 de Junho deste ano de 2021] representa uma forma de continuar ligado ao Desporto e de poder dar o meu contributo, além de me permitir acompanhar de perto o meu filho André, que joga Futebol.

Atendendo a que os meus Cursos estão actualizados e como tenho um gosto especial por ser Treinador, principalmente de Futsal, tudo somado funciona como mais um incentivo para tentarmos revitalizar o Futsal no Faial. Gostava muito que a AFH voltasse a ter esta modalidade localmente, à semelhança do que aconteceu no passado. Sabendo que há uma grande proliferação de desportos e que a população está a diminuir defendo que a aposta será agarrar os mais novos. Tenho o sonho de treinar Futsal de Formação, ou seja, miúdos que se dediquem só a esta modalidade e que a mantenham até serem Seniores. E se no Futebol temos craques como o Cristiano Ronaldo, no Futsal contamos com o Ricardinho, que é o melhor do Mundo. Além do mais, o Futsal tem uma grande vantagem em relação ao Futebol que é o facto de poder ser praticado em pavilhão. Ser Treinador de Futsal é uma possibilidade que mantenho em aberto e gostava muito que viesse a ser concretizada!

Apesar de esta ser a minha primeira experiência directiva na Associação de Futebol da Horta conheço as pessoas e sinto que estou bem integrado, o que facilita o trabalho. Embora a pandemia tenha afectado um pouco a actividade, há uns dias em conversa com o Presidente de um Clube local ele dizia-me que depois desta fase menos activa alguns jogadores que abandonaram o Futebol estão a pedir para voltar a jogar. Penso que as pessoas estão a precisar de regressar ao Desporto!

Selecção do Externato da Madalena - Época de 1990/1991

A AFH tem uma missão importante, (…) nem sempre entendida como tal

Trabalhei com miúdos de oito/nove anos e sei do que estou a falar. A AFH tem uma missão importante, sobretudo no que concerne à Formação dos mais novos, e a mesma além de não ser do conhecimento geral, infelizmente nem sempre é entendida como tal. Há muitas pessoas que não têm a percepção do que se vive no seio deste organismo desportivo. Mesmo estando um pouco por dentro desta orgânica, eu próprio fiquei surpreendido com o volume de trabalho existente. A Associação de Futebol da Horta já é “um barco grande”, o que fica bem espelhado na sua abrangência de quatro ilhas: Faial, Pico, Flores e Corvo. Quem está mais afastado e não tem esta ligação nem conhecimento pode ser levado a pensar que como a sede está no Faial fica tudo cá. É o que acontece com o pessoal do Pico. Quando vou lá, ainda vejo uns bairrismos, que não têm qualquer fundamento. Curiosamente, apesar da distância geográfica, as Flores e o Corvo aceitam melhor esta realidade. Tenho ido ao Corvo em trabalho (profissional) e desde há seis/sete anos que noto uma grande diferença. Foram criadas infraestruturas e há dinamismo. O Futsal tem uma grande implantação no Corvo, tendo sido feito um bom trabalho, principalmente na Formação, o que é de louvar. Mesmo havendo pouca gente, o que só permite que joguem uns contra os outros – e esporadicamente com os vizinhos das Flores – têm alcançado muito bons resultados. Isto é a prova de que a vontade e o trabalho podem vencer tudo! Os corvinos também são muito activos no Voleibol.

No Faial e no Pico há mais variedade de modalidades, mas assiste-se a uma grande dispersão, além de que nem todos dão para o Futebol, embora a maioria goste. Ainda assim, cheguei a treinar miúdos que se percebia estarem ali por causa dos pais. Encaravam aquilo como uma obrigação pelo facto de terem de praticar um desporto. Não sou apologista de se obrigar um miúdo de oito anos a praticar uma modalidade. Deve-lhe ser dada a oportunidade de escolher o que gosta. Tive casos de crianças com esta idade que após os primeiros quatro/cinco treinos se foram embora por não gostarem e no ano seguinte voltaram por sua iniciativa e correu muito bem! Já tinham mais um ano e outra convivência, o que facilitou. Defendo sempre que é melhor não forçar.

2008: Marco Benfeitinho enquanto Treinador da Equipa de Escolas do Clube Recreio e Fraternidade de Castelo Branco

A AFH poderia realizar acções nas Escolas com o intuito de captar novos atletas

Como todos nós sabemos, os mais novos são o garante da continuidade das diversas modalidades e nesse sentido acho que no início das épocas desportivas a Associação de Futebol da Horta poderia ir às Escolas das suas ilhas de jurisdição dar a conhecer aquilo que fazemos com o intuito de tentar captar novos atletas. Na cidade e nos Flamengos assim como nos Cedros há equipas de Futebol na Formação, mas em Castelo Branco, por exemplo, isso não acontece. Em tempos conversei com mães e pais que não tinham conhecimento de como é que a AFH está estruturada neste sentido. Principalmente nas freguesias que não têm Futebol organizado as pessoas não têm tanto a noção de como é que podem inscrever os filhos e dar-lhes a oportunidade de praticarem Desporto.

Os pais deveriam contribuir para ajudar os Clubes nos seus encargos

Os Clubes têm um desgaste permanente a diversos níveis (água, luz, equipamento, treinador, transportes, etc.,). Falando só na vertente do transporte, os custos são enormes! E então agora com a necessidade de os motoristas também terem de ser sujeitos a uma certificação, não poderem ter mais de 65 anos e as carrinhas serem alvo de inspecções periódicas, só mesmo quem está por dentro percebe o que isto significa. Posso falar pelo Futebol Clube dos Flamengos, que é onde o meu filho treina, que por vezes vai a Castelo Branco só por causa de um atleta. Penso que os pais deveriam contribuir para ajudar os Clubes nos seus encargos. Sei bem o que é estar do lado dos Clubes e agora também percebo o lado da Associação.

Tenho tentado acompanhar sempre o meu filho e houve dias em que fazia praticamente só de motorista, com especial incidência quando se trata dos treinos de Selecção, que ocorrem bastante no período laboral  pelo facto de AFH englobar também o Pico e os treinos serem alternados em ambas as ilhas. Sei que os pais não são obrigados a fazer este tipo de serviço uma vez que há transporte assegurado para os filhos, mas a verdade é que os Clubes não dispõem de funcionários para tal e fazemos um esforço para colaborar. Também sei que os pais não têm todos a mesma sensibilidade e disponibilidade, mas há situações que vão ao extremo como aquelas a que assisti, em que os pais estavam a ver o jogo do filho e quando acabou foram-se embora. E dali a pouco uma carrinha percorreu 20 quilómetros para ir pôr o miúdo em casa pelo facto de os pais não terem esperado que ele trocasse de roupa. Isto é não ajudar mesmo nada!

Entendo que se os pais dessem um contributo anual, por mais insignificante que fosse, no total representaria uma ajuda para o Clube que o filho representa. Os pais devem ser chamados a ter alguma responsabilidade nesta área, o que seria mais facilmente implementado se todos os Clubes seguissem uma política geradora de consenso.

Época de 2015/2016: Equipa de Futsal Sénior Masculino da Associação de Voleibol do Capelo

O Futebol é um compromisso e há que ser encarado como tal

Também conheço a velha questão de que sempre que as notas escolares dos filhos não são as desejadas o castigo aplicado pelos pais é suspender o Futebol, o que está profundamente errado, pois isso até incute nos mais novos a ideia de que não faz mal faltar, prevalecendo a falta de responsabilidade. Além do mais, os Clubes são altamente penalizados com essas atitudes, pois se não houver atletas em número suficiente o jogo não se realiza, dizendo o regulamento que o Clube é multado. O Futebol é um compromisso e há que ser encarado como tal. Enquanto Treinador, com três treinos semanais, o máximo de faltas que eu dava por época eram duas/três. Onde estou, gosto de cumprir e quem está por gosto cumpre.

Marco e o filho André: dois adeptos do Benfica (e do Futebol)

Quem está inscrito não pode faltar quando lhe apetece ou porque se tem a ideia pré-concebida de que o Futebol é a parte fraca no conjunto das actividades do atleta. Como pai, também aplico castigos e sei que se privar o meu filho de jogar Futebol é algo que lhe vai custar a sério, mas tenho tentado sempre encontrar outras vias. E não me venham com a desculpa de que o Futebol prejudica o desempenho escolar, porque é precisamente ao contrário! Uma vez mais vou falar pelo que se passou na minha casa, em que numa época em que o meu filho foi chamado a representar duas Selecções da AFH empenhou-se de tal forma que tirou notas excelentes. Uma coisa não impede a outra. Aliás: está provado que o Desporto ajuda a promover os resultados escolares e há grandes exemplos daquilo que digo.

A postura dos pais durante o jogo prejudica os jogadores e desautoriza o treinador

Na temporada de 2016/2017, Marco Benfeitinho treinou a Equipa de Petizes do Futebol Clube dos Flamengos

Comecei a dar Formação em 2006 e noto que agora não só temos mais pais a assistir aos jogos como também a sua postura está a evoluir. Ainda não estamos bem, mas já melhorou bastante. Em 2016, possivelmente não havia um pai a ver um jogo de miúdos com oito/nove anos, o que era desmotivador para as crianças. Agora vão muitos mais, embora, nalguns casos, garantidamente seria melhor não irem, pois o treinador diz uma coisa em campo e o pai na bancada diz outra. Claro que este cenário é confuso e complicado para a criança, que fica sem saber o que fazer. Como resultado, já vi miúdos a chorar em campo. Esta atitude prejudica os jogadores e desautoriza o treinador. Penso que não seria descabido, no arranque de cada época, os Clubes fazerem uma reunião com os pais dos atletas para estes perceberem a postura que devem ter no decorrer dos jogos.

Como pai, sei por experiência que por vezes é difícil ficar calado, mas tem de ser. Ainda hoje se no fim do jogo o meu filho pergunta a minha opinião digo o que penso, caso contrário mantenho-me calado.

Clubes devem ir às reuniões da AFH e expôr os seus pontos de vista

Não faz sentido existir uma Associação sem haver Clubes, mas a verdade é que estes também não se aguentariam sem a Associação. Os Clubes precisam de ser mais trabalhados. Ultimamente têm-me dito: “Quando estavas nos Clubes apontavas o dedo à Associação. Mas agora que estás do lado de lá vamos ver qual vai ser a tua postura”. E o que eu digo é que como Treinador ou Director posso sempre dar a minha opinião, além de que a crítica construtiva é positiva e sinal de que há interesse em colaborar na resolução do que está menos bem. No entanto, o que vejo claramente é que quem mais critica não o faz no local próprio, preferindo fazê-lo por trás. Se a Associação de Futebol da Horta organiza reuniões com os seus Clubes filiados e metade não aparece isso revela desinteresse. Se os Clubes têm dificuldades – e todos sabemos que assim é, ainda mais com o Processo de Certificação – devem comparecer e expôr os seus pontos de vista. É importante falarem da sua situação, mas também apontar possíveis soluções. Não basta criticar por criticar. Esta é uma situação que também ocorre por altura dos actos eleitorais. Mesmo só havendo uma lista concorrente se certos Clubes não concordam com a mesma têm toda a liberdade de não votar nela e de trabalhar para que haja alternativas. O que não é coerente – e já o disse directamente a alguns – é criticar, não apresentar soluções e a seguir votar naqueles que andaram a criticar. Parece-me que neste caso é uma crítica só mesmo para chatear. 

Os Clubes também têm a sua quota de responsabilidade e sem diálogo não chegamos lá. Já houve tempos em que Associação e Clubes estavam de costas voltadas, mas desde há vários anos que sinto que há paz e que o relacionamento é bom. Naturalmente que este ambiente pacificador e de entendimento está intimamente relacionado com quem dirige os Clubes e a AFH.

É vantajoso ter estado num Clube – embora eu não fosse Dirigente mas sim Treinador, apercebia-me das situações – e depois vir para a Associação. É fundamental conhecer os dois lados, pois muitas vezes falamos sem saber o que se passa na realidade, o que não é proveitoso para quem quer que seja.

Temporada de 2012/2013: Equipa Feminina de Futsal do Futebol Clube dos Flamengos com o seu Treinador

É preciso alterar a mentalidade dos jogadores da AFH

Naturalmente que o facto de a Associação de Futebol da Horta não dispôr de espaço próprio para treinos – só em Selecções começa nos Sub-12 e vai até aos Sub-17 – e ter de andar sempre a reboque de outros para tal, também influi nos resultados. No entanto, penso que mais grave do que isso é a mentalidade dos jogadores da AFH. Partir já derrotado é um grande problema que nós temos. Isso condiciona, e muito, o resultado. Tenho tentado incutir no meu filho – que tem ido às Selecções todas e participou dois anos no Torneio “Lopes da Silva” – a ideia de que ele e os colegas são tão capazes quanto os adversários e já noto algumas melhorias. Tento acompanhá-lo ao longo da época e estar presente em todos os jogos, mesmo que sejam no Pico, pois também gosto de ir lá. Mas, infelizmente, percebo que ainda continuam a entrar em campo um bocadinho derrotados. Há jogadores que vão para as Selecções com garra e vontade de ganhar, mas também há quem não queira ir por medo de perder, o que não compreendo. O problema nisto tudo é a mentalidade. Portanto, se trabalharmos no sentido de mudarmos esta mentalidade temos jogadores bons. E isto começa nos pequenos e vai até aos Seniores. Os grandes podem não entrar perdidos em campo, mas se sofrerem um golo acabou! E as equipas do Faial na Série Açores demonstram isso. Temos muitos jogadores que sofrem um golo e pensam: “A nossa missão era evitar qualquer golo. Já sofremos um está tudo arrumado!” E baixam a cabeça. Vê-se esta atitude em jogadores de 20, 21, 22 anos, pelo facto de virem com esta mentalidade da Formação. Os mais velhos são os que se aguentam melhor.

A realidade vivida no âmbito da AFH é completamente diferente daquela que acontece na Terceira e em São Miguel. Enquanto São Miguel tem todos os seus atletas na própria ilha e a Terceira também (embora às vezes vá à Graciosa e a São Jorge buscar uns miúdos) nós temos Faial/Pico. A que horas se levantou um miúdo das Lajes do Pico que vem ao Faial realizar treinos da Selecção, está um dia inteiro nas aulas, vem na última lancha, treina, janta quando acaba o treino (depois das nove da noite) para descansar um pouco e ir de manhã cedo novamente para o Pico e regressar às Lajes? Embora esteja ali porque gosta, não deixa de ser violento e quem está por fora deste contexto não conhece a situação nem pensa que todos estes factores têm influência directa no rendimento e no resultado. A nossa realidade é muito dura. E não se pode dizer que a culpa dos resultados seja do seleccionador, que tem um papel ingrato no que concerne à falta de tempo para fazer o seu trabalho. Ter apenas duas semanas para treinar jogadores que vêm de Clubes tão diferentes é complicadíssimo! E chegados a Juniores já se sabe que a maioria vai para a universidade, o que os impede de vingarem como Seniores. O escalão mais difícil de criar é o de Juniores, pois há muita instabilidade.

Na Época de 2016/2017, este técnico trabalhou na sua área preferida que é a Formação, tendo sido o Treinador do plantel de Traquinas dos Flamengos

Freguesias próximas podem e devem partilhar infraestruturas

Quando treinei o Capelo, os treinos decorriam em Castelo Branco com início pelas nove e meia da noite. Até a essa hora, o pavilhão estava sempre cheio e era apenas com o Voleibol da “casa”.

Obviamente que, como pai, gosto que o meu filho chegue a casa quando acaba o treino. Mas às vezes há um escalão que termina o treino meia-hora depois sendo normal esperar um pouco pelo que ainda está a treinar, pois havendo atletas dos Cedros e do Salão, por exemplo, terão de seguir na mesma viagem.

Claro que não se justifica todas as freguesias terem um pavilhão e um sintético e as mais próximas podem e devem partilhar infraestruturas, mas muitos Clubes no Faial estão a precisar de mais estruturas. O que também se aplica à AFH, embora este assunto já esteja encaminhado. Se tivéssemos o prometido Estádio “Mário Lino” a situação seria bem diferente, para melhor!

Reavivar o Futebol Feminino

Não tenho dúvidas em afirmar que se a actividade do Centro de Treinos de Futebol Feminino “FIFA Academy” da AFH não tivesse sido interrompida devido à pandemia, hoje teríamos uma equipa Feminina de Futebol de 7 no Faial. No Pico, conseguimos formar duas e era muito importante haver pelo menos uma no Faial. Ainda temos duas ou três meninas a jogar com os rapazes, já nos escalões de Juvenis e Juniores, o que significa que elas se aguentam bem com eles. Com esta paragem não sei se alguma da “FIFA Academy” estará interessada em regressar, pelo que será necessário voltar a fazer o trabalho de base no sentido de haver recrutamento. Considero que este é um bom projecto e há todo o interesse em recuperá-lo. Aliás, este é mesmo um dos grandes focos da AFH para o presente mandato.

A AFH tem intensificado a aposta na Formação de Treinadores

Nunca concordei que gente sem habilitação própria pudesse dar treinos e fico muito satisfeito por ver que a AFH tem, desde há alguns anos, intensificado esta aposta. Alguns acham que sabem, mas a formação é essencial. O primeiro Curso que fiz foi com o professor Emanuel Melo, do Pico, e no dia do teste final ele separou os candidatos para perceber o que cada um sabia. Era tudo levado a sério e acho que deve ser assim, pois sabendo que uns têm mais dificuldades do que outros o resultado não pode ser o mesmo. Deve haver ajuda, claro, mas a classificação tem de ser distinta.

Para se ser treinador não basta saber as regras; também é preciso gostar. Temos casos de pessoas com grandes conhecimentos que não são bons treinadores. E também há quem não possua Curso e saiba mais do que outros que o tem, mas não é por causa disso que se vai oferecer a certificação. É preciso fazer o Curso, como todos os outros.

Para se treinar os escalões mais novos é preciso vocação além de formação

Em 2008, Marco Benfeitinho assumiu as funções de Treinador da Equipa de Escolas do Clube Recreio e Fraternidade de Castelo Branco

Um bom treinador não tem obrigatoriamente de ter sido jogador, mas esse facto ajuda. Não há idade limite para se ser treinador, mas a verdade é que se estivermos a falar dos escalões de Formação isso implica ter muita paciência. Por isso, se a pessoa for mais nova é melhor. Considero que não é qualquer treinador que está talhado para a Formação. Para se treinar os escalões mais novos é imprescindível ter vocação além de formação. Conheço casos de excelentes treinadores que não têm sucesso com os mais pequenos. Pessoalmente, prefiro treinar os miúdos, mas também gosto dos maiores. E a melhor experiência que tive como Treinador foi com os Seniores no Capelo, porque tratou-se de um projecto novo. Criei uma equipa de raiz, com gente que nunca tinha jogado Futsal (apenas tinham disputado aqueles torneios de Futebol de Salão) e formou-se um grupo muito engraçado. Foi só um ano, mas foi muito bom!

 A minha realização é como Treinador. Curiosamente, quando joguei Futebol não pensava nisso, mas a verdade é que já era um bocadinho treinador, sendo adjunto e Capitão de equipa. Foi nessa altura que veio ao de cima o meu espírito de líder, o que também é visto pelos outros.

E é por gostar tanto de ser Treinador da Formação que, sinceramente, me custa saber que já não há Futsal em Castelo Branco. Atendendo às condições existentes poderíamos ter Volei e Futsal, pois mesmo com várias equipas conseguia-se ter horários de treino decentes, ou seja, às nove da noite já estaria toda a gente em casa. E insisto na ideia de que em Castelo Branco era perfeitamente possível já esta época formar uma equipa de dez miúdos e fazer ressurgir a modalidade, embora fosse necessário que outros Clubes/freguesias também estivessem disponíveis para poder haver jogos/competição. Era uma semente que poderia vir a dar frutos no Futsal.

Marco Benfeitinho quando jogava na equipa de Futebol da Casa do Povo da Candelária aquando da deslocação realizada às Flores, em 1993

Fotografias cedidas por: Marco Benfeitinho

Não é Presidente quem quer (…)

Apesar de ter espírito de liderança, nunca tive a ambição de ser Presidente do que quer que fosse. Gosto de dar o meu contributo nos Órgãos Sociais das instituições, mas numa posição menos exposta. Já fui convidado para esse lugar e até assumi o cargo de vice, mas entendo que não é Presidente quem quer, mas quem tem capacidade para tal. Também é preciso ter em linha de conta que um Presidente precisa de uma boa equipa e olhando para trás já estive em lugares que trabalhava mais do que o Presidente.

Antes mesmo de chegar à Associação de Futebol da Horta já tinha a noção de que não é qualquer pessoa que pode assumir este cargo. Aliás, atendendo à natureza quadripartida desta Associação e ao volume de trabalho que envolve, já justificava termos um Presidente a tempo inteiro. Considero que o Eduardo é um bom Presidente, com grande dinamismo em diversas frentes. Basta ver os projectos que tem implementado (em conjunto com as suas equipas) de que são exemplos as Galas, a aposta na Formação, o projecto da nova Sede, Campo e Centro de Estágio e o resgate histórico, com a edição de vários livros, estando outros na calha.

Associativismo: as pessoas devem ir para os cargos por gosto e não por interesse

Quando estive na Direcção do Castelo Branco Sport Club, como ainda não tínhamos o pavilhão os treinos do Voleibol decorriam na Escola Secundária. Como tal, por vezes fazia de motorista desde as cinco da tarde até às 11 da noite. Tínhamos jogadores, em vários escalões, desde a Praia do Norte até Pedro Miguel, o que se tornava complicado. E a responsabilidade de ser condutor também é grande. Se formos a olhar ao trabalho, aos custos, à responsabilidade, etc., é mais fácil ficarmos todos comodamente sentados em casa. O que quero com isto dizer é que se formos a ver bem os Dirigentes só perdem, mas sem o trabalho deles não havia instituições e estas cumprem um papel indispensável na sociedade. A meu ver, quem vai para o Associativismo deve ser por gosto e não à espera de uma compensação. Se alguém aceita ser Voluntário numa determinada instituição a pensar em benefícios, encaro isso como sendo por interesse e não por gosto. Não defendo que tenha de haver uma compensação. Contudo, não me oponho a quem luta por isso.

Penso que o Associativismo também é uma forma de muitas pessoas preencherem o seu tempo livre. Falo por mim, pois fico aborrecido quando não tenho com que me ocupar. (Antes deste meu problema de saúde ainda me dedicava ao cultivo de hortícolas, mas agora nem isso posso fazer). Embora seja verdade que alguns Dirigentes acusam cansaço, julgo que a crise no Dirigismo não é assim tão acentuada como se ouve dizer, pois já vejo muitas pessoas jovens a envolverem-se. O que acontece é que, tal como eu, alguns não tomam a iniciativa de se chegar à frente, sendo necessário haver um convite. Os mais novos podem até não fazer tantos mandatos como os mais antigos, mas se lhe baterem à porta muitos disponibilizam-se a colaborar durante algum tempo”.