Durante três dias – sexta, sábado e domingo últimos, 30 de Abril, 01 e 02 de Maio – a ilha do Corvo foi a capital do Futsal nos Açores. O Polidesportivo do Corvo apresentou lotação esgotada para assistir ao Apuramento do Campeão da AFH de Seniores em Futsal Masculino - Época de 2020/2021 e a Taça foi conquistada pela equipa da “casa”.

O Departamento de Comunicação e Marketing da Associação de Futebol da Horta (AFH) – entidade organizadora da prova – conversou com os Treinadores das equipas que disputaram o título: Clube Desportivo Escolar do Corvo (CDEC); Grupo Desportivo da Piedade (GDP), do Pico; e Boavista Sport Clube (BSC) das Flores.

 

João Estêvão - Jogador/Treinador do Clube Desportivo Escolar do Corvo:

 

“Estava muito confiante e sabia que era possível esta vitória”

 

“A competição decorreu bem. Foi uma vitória inédita! O Clube Desportivo Escolar do Corvo foi fundado em 2012, mas o Futsal federado só começou dois anos depois. Portanto, em apenas sete anos termos conseguido subir à Série Açores numa terra com 450 habitantes, é sinónimo de muita qualidade. Foi uma ascensão rápida! E não é fácil subir à Série Açores.

Estava muito confiante e sabia que era possível esta vitória. Tivemos dois jogos complicados, mas passo a passo foi possível chegarmos lá e colher os frutos do nosso trabalho árduo.

Fomos superiores e os nossos adversários admitiram isso mesmo, afirmando que o desfecho foi justo. O resultado que obtivemos no jogo de domingo foi esclarecedor. Os jogadores do Piedade ficaram bastante surpreendidos. E é preciso ver que no Corvo estamos muito limitados em termos de competição e de recrutamento. Enquanto o Pico tem perto de 15 mil habitantes o que significa muito por onde escolher, nós estamos reduzidos a um universo populacional de 450 habitantes. E somos todos amadores enquanto alguns deles recebem salários e são profissionais.

Foi altamente benéfico ter conhecimento do jogo das equipas adversárias. O encontro amigável que realizámos com o Boavista das Flores e a análise que fiz à partida que esta equipa florentina realizou na Super-Taça permitiu-me perceber a organização deles. Conheço o plantel do Boavista Sport Clube, pois também já joguei torneios de Verão na ilha vizinha. O facto de na sexta-feira termos conseguido ganhar ao Boavista mesmo na recta final, também representou a nossa estrelinha da sorte a brilhar.

Já agora, recordo o jogo, também amigável, que fizemos com “Os Minhocas” esta temporada, que muito nos ajuda em termos de competitividade. É imprescindível jogar com outras equipas. Sentimos muito essa necessidade para quebrar a rotina de jogarmos uns contra os outros no Corvo. O facto de sermos sempre os mesmos não traz evolução.

Em relação à equipa do Pico, dispunha de uma grande quantidade de imagens de atendendo às transmissões que são feitas pela Lajes TV, pelo que conhecia a formação do Piedade como a palma da minha mão e depois de a ver jogar no sábado, aqui no Corvo, percebi que estava bem ao nosso alcance. Foi uma jornada muito cansativa, mas a verdade é que conseguimos anular os adversários picoenses ao longo de quase todo o jogo.

 

O mais importante é manter esta estrutura forte para nos batermos na Série Açores (…) e investir num treinador (…)

 

Depois de tanto trabalho, agora temos de nos focar na manutenção. Jogar na Série Açores é positivo não só para a equipa, mas igualmente para o desenvolvimento do Corvo. Representa contrapartidas para a ilha. Além das receitas há, também, a questão da animação tendo em conta a regularidade dos jogos e as dinâmicas associadas a estas movimentações.

É tempo de começar já a pensar na próxima época, o que será bastante complicado atendendo a que eu terei de ausentar-me para prosseguir estudos em Lisboa [que foram interrompidos devido à pandemia] assim como meu irmão, o que representa duas baixas no plantel, além do Treinador, atendendo a que eu sou jogador e simultaneamente treinador, o que, confesso, se tornava bastante exigente. Mas fiz sempre tudo com muito gosto e dedicação. Deu trabalho, mas valeu a pena. Aliás, eu enquanto treinador sempre fiz de tudo, tal como o Daniel Dias, por exemplo, que além de ser Presidente do Clube é também o guarda-redes. O CDEC tem uma Direcção espectacular! E aqui tenho de referir também a Paula Dias, mãe do Daniel, pois são eles que vão conseguindo vencer muitos dos obstáculos que se põem no dia-a-dia. É preciso que se mantenha esta inter-ajuda entre os membros do Clube e o grande apoio dos patrocinadores locais, a quem agradeço a preciosa ajuda, assim como à Câmara Municipal.

Tínhamos esta organização montada e a funcionar e as pessoas sabiam disto pelo que foi fácil gerar consensos à volta do mesmo ideal. Houve uma união de toda a comunidade e esse foi o grande segredo para alcançarmos este resultado, pelo que a vitória é do Clube e da Ilha! Por isso, o mais importante é manter esta estrutura forte para nos batermos na Série Açores. Isso será sinónimo de investir num treinador de fora, que será fundamental para a equipa Sénior, mas também para a Formação, criando motivação. Desta forma, alguns Juniores poderão subir a Seniores e ajudar a equipa. É imprescindível manter esta estrutura corvina. Deste conjunto de 16 jogadores apenas dois ou três não são da terra, mas residem cá. Só temos dois atletas com idades acima dos 30 anos. A nossa média etária está fixada nos 23 anos. Somos tudo pessoal jovem, mas com maturidade.

Ter elementos de fora faz com que o espírito não seja o mesmo que se vive actualmente. A bancada recheada de locais representa os familiares dos nossos jogadores, que se fossem de fora não tinham família a torcer por eles. O apoio que tivemos foi magnífico. Nunca tinha visto nada assim no Corvo!

Desde Novembro, quando comecei a treinar a equipa, que traçámos como objectivo esta vitória, tentando adaptar o nosso trabalho ao jogo das outras duas equipas. Treinávamos três vezes por semana. Com trabalho tudo é possível! Todos nos dão os parabéns pela qualidade da equipa. A verdade é que estou ansioso por uma nova época.

 

Este episódio veio pôr a nu uma das fraquezas da ilha do Corvo, que é a questão da Saúde

 

A situação verificada com um jogador do Boavista resultou do cansaço acumulado, atendendo a que a equipa das Flores tinha jogado com o Corvo e depois com o Piedade. Foi assustador! Sou amigo dele e fiquei alarmado, mas felizmente ele já está recuperado. Este episódio veio pôr a nu uma das fraquezas da ilha do Corvo, que é a questão da Saúde. Por vezes as evacuações decorrem debaixo de mau tempo, o que dificulta bastante, além da demora a que estão sujeitas, pois sabemos que devido a situações prioritárias nem sempre são tão céleres quanto desejaríamos e aqui o factor tempo é determinante entre a vida e a morte.

Por outro lado, o facto de ter acontecido no Corvo, onde está tudo concentrado, também teve o seu lado positivo, uma vez que o médico da ilha se encontrava na bancada a ver o jogo, pelo que a assistência foi prestada numa questão de segundos. Mas lá está: se fossem necessários outros meios, mesmo havendo um médico poderiam faltar condições para acudir à emergência. Ainda bem que tudo não passou de um susto!

 

Homenagem ao atleta Fábio Fraga, já falecido

 

Aproveitando esta oportunidade, gostaria de destacar a Homenagem que o Clube Desportivo Escolar do Corvo prestou ao seu ex-atleta Fábio Fraga, que faleceu há cerca de dois anos, vitimado por cancro. Foi uma homenagem ao jogador [que ainda não tinha 40 anos] e à família e que passou por emoldurar e afixar no Polidesportivo do Corvo a camisola número 2 que ele usava nos jogos. Com este gesto queremos manter viva a memória do Fábio entre todos nós”.

 

Sérgio Cordeiro - Treinador do Grupo Desportivo da Piedade (Pico):

 

“Não atingimos o nosso objectivo”



“No geral, o Apuramento correu bem, mas claro que não atingimos o nosso objectivo. Sabíamos que o Corvo tinha uma boa equipa, bem preparada. Já tinha percebido que era uma formação jovem, nova e forte. Naturalmente que estavam em vantagem por conhecerem o nosso modelo de jogo, ao contrário de nós, que não conhecíamos a equipa deles. E aqui temos de dizer que o Corvo nos conhece bem graças ao belíssimo papel que a Lajes TV está a fazer. É preciso que os jogos do Corvo também sejam transmitidos para ficarmos em pé de igualdade.



O jogo que fizemos com o Corvo foi muito disputado, mas eles ganharam, o naturalmente deixou os jogadores do Piedade tristes, mas agora temos é de pensar na próxima prova: a Super-Taça!

O único aspecto negativo que tenho a apontar foi o mau serviço prestado pelo árbitro principal da “casa”, que demonstrou falta de profissionalismo. Não tem qualidade e basta ver o vídeo do encontro. Tirando isso, fomos muito bem recebidos e acomodados.

O que sucedeu com o jogador do Boavista veio demonstrar que a ilha do Corvo não está preparada para um evento destes. Felizmente não passou de um susto, tendo em conta que tudo indica que se tratou de uma situação provocada pelo elevado esforço físico feito pelo atleta, mas se tivesse sido algo grave talvez tivessem surgido complicações. Isto deixa-nos a pensar que poderia ter acontecido com um jogador nosso e que não havendo meios locais para atender a um caso grave o desfecho pode ser fatal”.

 

Márcio Furtado - Treinador do Boavista Sport Clube (Flores):

 

“Apuramento muito cansativo pelo facto de termos um plantel curto”

 

 

Fotografias cedidas pelos Treinadores das três equipas

 

“A competição foi boa e o balanço que faço é positivo. No entanto, estamos a falar de um Apuramento muito cansativo pelo facto de termos um plantel curto, ou seja, poucos atletas. Ainda assim, considero que as equipas eram equilibradas.

Naturalmente que o factor “casa” também pesou a favor do Corvo, pois como costumo dizer “jogar em casa é um jogador a mais”.

Conhecíamos bem o plantel do Corvo, ainda mais porque tínhamos feito um jogo [amigável] com eles. Sabíamos de antemão que é uma equipa que tem jogadores para rodar, ao contrário de nós, que somos poucos e apenas fazemos um treino semanal por falta de disponibilidade dos atletas. Mas a vida profissional está em primeiro lugar, o que por vezes nos leva a dizer que desta forma não dá gosto. Há-de ser melhor para a próxima época, na qual já nos encontramos a trabalhar. Claro que a pandemia vai continuar a ser uma realidade, mas esperamos que não volte à fase em que jogávamos sem público na bancada, o que além de ser diferente constituía um desânimo!

A situação ocorrida com um dos nossos jogadores explica-se pelo facto de termos realizado dois jogos seguidos, a que se soma o encontro do fim-de-semana para a Super-Taça. Naturalmente que se estivéssemos perante uma situação grave no Corvo seria de difícil resolução, mas nas Flores também seria complicado”.

 

 

Cristina Silveira